Sino dos ventos

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Lembro-me que quando  minha avó  era viva. Ela era cheia de costumes, tradições e até mesmo  superstições. Por exemplo: na sexta-feira da paixão não  se podia ouvir música, falar alto, nem arrumar as camas ou lavar a louça...era um dia para reflexão total. Havia missa de hora em hora e todo mundo  parecia sentir o  suplício de toda via sacra. Eu, criança, ainda, não  via a hora era de chegar o dia seguinte....sim, sim...não  era o  domingo  que eu esperava. Eu gostava mesmo  era da "ação", da "adrenalina", da bagunça propriamente dita. Malhar o  Judas era praticamente uma terapia. Era um tal de pegar calça velha de um, camisa velha de outro, meias, sapatos, chapéus. Olha que alguns eram bem divertidos e até realistas. Naquele tempo  nós os amarrávamos no  poste e a "malhação" era com paus e pedras somente onde no  fundo  descontávamos as "raivas" todas que crianças dos anos 70/80 tinham ¬¬. Era divertido. Conforme o  tempo  passou isso  tomou  dimensões completamente distorcidas. Há raiva de verdade nesse dia, há personalização do tal Judas que há muito perdeu a identidade e é um em cada país, estado, cidade, bairro. Hoje 95% dos bonecos não  são  mais o  Judas bíblico, são o  Judas atual que nos trai descaradamente e nos vende por qualquer monte de moedas. Eu não  sou cristã, vocês sabem, mas cresci num lar católico e sei sim do que estou  falando. Sendo  assim libere aquela mágoa, aquela raivinha que você ainda guardou  ai no peito e amanhã malhe seu  Judas, despedace-o para que tudo seja retomado  do zero.
E a senhora, minha avó Hercília, onde quer que esteja espero que veja como tudo  mudou....é a "evolução" dos tempos, Vó, temos que acompanhar as mudanças. Então, Vó, me desculpe por ter arrumado minha cama, deixado a cozinha limpa e estar em meditação e reflexão  sem precisar sentar no  banco da igreja.


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