Os celtas honravam centenas de divindades nas das Ilhas Britânicas e na Europa ocidental. Alguns são conhecidos através de contos e poesias, mas da maioria pouco se sabe fora os nomes tirados de inscrições em pedra. Ao pensar em deusas de cura irlandesas, a maioria imediatamente pensa em Brigith, mas ela não é a única deusa de cura celta. As histórias de Airmid são poucas. Ela é mencionada somente duas vezes ou três vezes em todos os contos irlandeses traduzidos. Airmid é uma curandeira que usa ervas,e que faz parte de uma família de curandeiros (médicos) da Tuatha de Danann, um dos grupos divinos da Irlanda pagã. Juntamente com seu pai, Dian Cecht e seu irmão Miach, um deus de cirurgia, ela guardava uma fonte sagrada que trazia os mortos de volta à vida. Os contos nos dizem:
“O morto e o ferido de morte eram lançados em um poço de cura sobre o qual Dian Cecht e seus filhos, Octriuil Miach e Airmid cantavam encantamentos, e todos eram restaurados em pleno vigor1.”
Como curandeira, Airmid superava seu pai no poder, pois enquanto Dian Cecht substituia o braço decepado do rei de Danann, Nuadha, por um de prata, ela e Miach regenerariam a saúde perfeita do braço de carne. O encantamento de cura que recitaram, permaneceu no uso popular celta até hoje.
Osso por osso,
Veia por veia,
Unção por unção
Fluido por fluido
Pele por pele
Tecido para tecido
Sangue por sangue
Carne por carne
Tendão para tendão
Tutano por tutano
Medula por medula
Gordura por gordura
Membrana por membrana
Fibra por fibra
Umidade por umidade2.
A Tradição popular é poderosa, permanecendo na memória das pessoas para as gerações futuras, mesmo após a geração desaparecer. Não há nenhuma explicação, apenas “este é o jeito que sempre foi feito.” Tal qual o poder do crescente verde. Corte uma sorveira e uma dúzia de mudas jovens surgirão do tronco para substituíla.
Do mesmo modo que a origem do encanto se perdeu na memória, também o segredo das ervas curativas foi perdido . Dian Cecht, com ciúmes pois não conseguia competir com as habilidades cirúrgicas de Miach nem com os poderes de regeneração de Airmid, matou seu filho e espalhou e confundiu as ervas que cresceram sob seu túmulo para que mortais humanos não pudessem compartilhar o poder e a imortalidade dos Deuses.
Depois disso, Miach foi enterrado por Dian Cecht e 365 ervas cresceram no túmulo, correspondente ao número de suas articulações e tendões. Então Airmid esticou seu manto e separou as ervas de acordo com suas propriedades. Dian Cecht foi até ela e misturou as ervas, para que ninguém soubesse suas qualidades curativas, a menos que ela os ensinasse depois. E Dian Cecht disse: “Ainda que Miach já não viva, Airmid permanecerá.3”
As ervas de Airmid, distribuídas em sua capa, foram espalhadas por seu pai. No entanto, Airmid ainda se lembrava dos poderes das ervas, e podia nos ensinar seus segredos. Através dela, podemos aprender a usar e apreciar o poder sagrado de plantas e águas curativas. Suas ervas medicinais eram poderosas, ofereciam cura a todas as partes do corpo. O número simbólico 365 nos diz que, com o tempo, as ervas de Airmid podem curar todas as feridas. As ervas de Airmid têm poder durante todo o ano solar, seja em sementes ou raízes, broto ou haste, flores ou folhas. Frescas na primavera ou secas no auge do inverno, as ervas têm efeito. Elas funcionam pelos ciclos da natureza, e pela energia que conecta as articulações e tendões do corpo em linhas de energia.
É Airmid, a Deusa das plantas medicinais, apenas uma curadora do corpo? A resposta simples é não, o poder de cura de cada lugar verde parece um pulsar vívido. Temos apenas que ficar em um bosque de árvores ou ouvir o escoar de uma cachoeira circulada por samambaias para sentir o peso de nossas feridas espirituais e emocionais começarem a deixar nossos ombros. O poder de cura das plantas vai muito além de seu efeito físico sobre a bioquímica humana. Quando nos deliciamos com as cores e aromas de flores desabrochando, o cheiro verde inebriante dos pinheiros e cedros, o poder de cura de Airmid está lá. Em nossas xícaras de chá com mel, ela reside. Ela habita florestas e campos, e para aqueles de nós que moramos na cidade, ela habita nos vasos de ervas aromáticas de lojas de jardinagem, canteiros de janelas de apartamentos, e no dente de leão amarelo insistente saindo para fora de uma fenda na calçada. A essência da religião celta é encontrada nos estados contraditórios, e não na margem limiar. Airmid é o equilíbrio ímpar de resistência e delicadeza céltica, que se manifesta na amora silvestre – brilhante, de flor frágil e com um emaranhados de espinhos. Ela cria a vida da morte, trazendo a cura da sepultura de Miach. Três tipos de medicina eram reconhecidas pelas Brehon Laws4; a cirurgia, o controle da dieta e a cura pelas ervas. A “mulher-médica da tuath ou tribo” (banliaig túaithe) era considerada independente de seu marido e ordenava o seu próprio preço de honra5, ao contrário de muitas outras mulheres na sociedade celta. A banliaig túaithe era muito provavelmente uma curandeira de ervas e parteira. O herbalismo foi considerado uma parte muito importante da medicina irlandesa, e isso teria feito de Airmid uma deusa de muito prestígio, apesar de poucas menções a ela nos textos mitológicos irlandeses.
As sagas e textos legislativos concordam em ressaltar a importância das ervas medicinais. Tain Bo Cualigne descreve um cataplasma de ervas curativas que foi colocado nas feridas de CuChulainn. Bretha Crolige afirma que o propósito das ervas do jardim é cuidar dos doentes, e refere-se ao grande serviço prestado pelas ervas medicinais nesses cuidados6.
Nossas jardineiras de janelas, e canteiros de quintal podem ser santuários de Airmid. Os bosques e todos os lugares selvagens, onde crescem plantas são seus templos naturais. Ritos de cura, indução ao transe e meditação são trabalhos devocionais apropriados para esta Deusa do Verde. Trabalhar para preservar áreas naturais é uma forma de devoção À ela, porque muitas espécies de plantas medicinais são encontradas apenas na natureza e ou não são culivadas com sucesso.
Um altar domestico para Airmid pode ser coberto com um pano, simbolizando o manto em que ela colocou as ervas curativas. Pode-se distrubuir plantas secas ou frescas de todo tipo. Vasos de flores, buquês de ervas, vasos de plantas, coroas de ramos ou pilhas de frutas podem ser colocados em sua superfície. Uma tigela ou caldeirão com água da fonte ou água de chuva podem simbolizar seu poço de cura e regeneração. Incensos para ela devem ser florais ou terrosos, remetendo ao crescimento e verdes campos, as resinas de pinheiro ou abeto, ou a doçura elegante do âmbar. Se você for usar velas, pode ser de cera de abelha para simbolizar o trabalho de fertilização das abelhas e os poderes curativos do mel. Se você sentir a necessidade de uma lâmina sobre o altar, considere usar uma foice para estreitar sua associação com o trabalho agrícola, ao invés de um athame. Bronze, prata, pedra ou madeira são preferíveis às de ferro, pois o folclore nos diz que os dé Danann não gostam desse metal. O seu templo interno pode ser decorados com ramos de ervas secas penduradas no teto, guirlandas de ervas nas paredes, cestas com flores secas, com plantas de jardim interno penduradas em potes e luminárias, com garrafas cheias de ervas secas penduradas, e pilões e almofarizes para sua preparação.
Se você tiver espaço no seu quintal para fazer um jardim, seria muito apropriado você dedicar uma área para ser seu santuário especial e pedir bênçãos para o crescimento e preparo de suas ervas. Divindades celticas eram freqüentemente representadas por figuras toscas esculpidas em um tronco ou em uma pequena pedra em pé. Com um pouco de inspiração e alguns cuidados você pode criar em uma pedra ou tronco um ícone que simbolize a divindade para você. Uma tigela ou banheira para pássaros ante a imagem pode servir como sua fonte de cura. Vidência e meditação de cura podem ser realizadas olhando para o reflexo da água. Para aqueles que possuem algum dinheiro disponível e gosto para coisas atípicas, pequenas fontes de pedras naturais brutas podem ser encontradas em lojas de jardinagem e podem ser empregadas no culto. O custo para isso pode ser alto, mas a bomba da fonte precisa de menos eletricidade do que é preciso para um purificador de ar de aquário funcionar. A música do som da água em movimento pode aprofundar a meditação e ser um refúgio da distração das atividades cotidianas. Se você não tem a sorte de morar perto de um rio ou cachoeira, esta pode ser uma alternativa útil. A inspiração é uma das raízes do culto céltico. Não há necessidade de roteiros rituaalísticos para adoração às deusas célticas. A poesia é sua forma preferida de invocação. Algum tempo dedicado à um jardim de ervas ou entre as flores silvestres poderá facilmente inspirá-lo, como tem inspirado muitos poetas por séculos. Mesmo se você não estiver se sentindo particularmente inspirado, há uma série de livros disponíveis com exemplos de poesia celta, que podem ser usadas ou modificadas para seus rituais.
“Eu vou arrancar corretamente o milefólio,
que mais benigno seja meu rosto,
que mais quente sejam meus lábios,
que mais puro será meu discurso,
seja meu discurso como raios de sol,
sejam meus lábios como a seiva do morango7”
Existem muitos poemas célticos que são centrados no modo da colheita de ervas específicas para a cura ou para fins mágicos. A Carmina Gadelica, originalmente uma compilação com materiais poéticos com traduções tanto em inglês quanto em gaélico escocês, foi recentemente relançado em formato “All-english8”, e é uma fonte rica que contém muitos encantaments e crenças folclóricas sobre plantas da Escócia do final do século 19. Outros poemas populares usam ervas e plantas como parte de seus simbolismos, mesmo que eles não estejam diretamente relacionados ao o uso e cultivo de plantas medicinais. Estes também podem ser modificados para uso ritual. A tríade é uma forma tradicional de textos de sabedoria da Irlanda Céltica. Uma das tríades irlandesas fala sobre os atributos de um curandeiro, dizendo: “Três coisas constituem um médico: A cura completa, não deixar sequelas. exame indolor”. Através do nosso trabalho em rituais com Airmid, podemos nos esforçar para cumprir essas condições. Em devoção `a Ela, podemos trabalhar para curar a nós mesmos, e através do conhecimento de suas ervas, também as pessoas próximas a nós. Através dos nossos jardins e de nossa devoção ao mundo verde das plantas, podemos mover o círculo exterior e trabalhar para curar o nosso planeta.
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